
SOBREVIVER NA LIBERDADE
07/07/2012 13:39Um passarinho, cujo habitat é a gaiola ou ainda o apartamento, foge no momento em que a proprietária, do apartamento e também do passarinho, abre a porta para atender uma visitante. No momento em que o passarinho sai pela janela do corredor e alcança a noite, a velha senhora diz à moça “ele não sobreviverá na liberdade”. Como pode o pássaro não sobreviver na liberdade? Como pode alguém não sobreviver na liberdade?
Os humanos não são diferentes do passarinho. Quando alguém vive anos no mundo das metas, já livre de tudo isso sai a voar e pode não sobreviver. Pensei em escrever, mas cedo fui alertado por Platão. As palavras escritas parecem falar conosco como se fossem inteligentes, elas nos dizem, diferente do pensamento de muitos, coisas diferentes. A palavra têm significados e o leitor atribui-lha significados conforme seu desejo, sua vontade ou necessidade. Uma vez que algo foi escrito, seja qual for, espalha-se por toda a parte, caindo em mãos não só dos que a compreendem, mas também dos que têm relação alguma com ela. A falta de reflexão revela a má interpretação.
Procuramos pela liberdade, mas insistimos pela escravidão. Liderar parece não dizer respeito à pessoa, mas é onde tudo começa. Não somos educados para liderar-nos. Não somos, portanto, educados para a liberdade. A escola brasileira é claramente pensada como formação voltada para atender as demandas do mercado. A mão de obra não qualificada é encarada como um risco para o desenvolvimento econômico. O objetivo do ensino é instrumentalizar e adequar o indivíduo para o mercado, visando o aumento da capacidade produtiva. A escola priorizou a aquisição de um grande número de informações, porém, agora, com critérios de utilidade, facilidade e rapidez.
Para a sociedade atual, a resposta é a adaptação introjetada pela “sapiência” da Indústria Cultural. Ela mostra aos indivíduos o que realmente é útil, “racionalizando” e padronizando as ações. Perdendo o poder reflexivo, a sociedade fica a mercê dos grupos que monopolizam as informações. Por sua vez, a educação também se transforma em um produto da Indústria Cultural, uma vez mais reproduzindo a ideologia dominante.
A escola está, portanto, distante de formatar cidadãos pensantes para a liberdade. Um ser que, por natureza, não pertence a si mesmo, mas a outro, mesmo sendo homem, este é, por natureza, um escravo.
A responsabilidade é vivida na solidão; mas as escolha pela qual somos responsáveis tem um alcance que não se esgota na individualidade particular. A magnitude da liberdade responsável está na imbricação entre singularidade e universalidade, o indivíduo e a sociedade. O indivíduo é livre quando a sociedade não lhe impõe nenhum limite injusto, desnecessário ou absurdo.
Professor Romério Gaspar Schrammel
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