
PERGUNTAS ENCONTRAM VERDADES
17/07/2012 09:46Outro dia minha mãe, pessoa de pouco estudo, mas de muita leitura, atuante em instituições da Igreja como a OASE (Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas) perguntou-me por que já não mais podemos questionar, perguntar? As pessoas logo se ofendem. O que está acontecendo? – assim reagia ela. A mãe deixou-me sem palavras, pois vivencio o mesmo, há anos, mas ela, lá no interior, viver situação semelhante - não poder mais perguntar! Pergunta gera insegurança, pode também gerar desconforto. É, a pergunta, indício de desconfiança? Lutero escreveu "Usemos também a razão, para que Deus se aperceba da gratidão por seus bens, e outros países vejam que também somos gente e pessoas que podem aprender deles ou ensinar-lhes algo útil, a fim de que também nós contribuamos para o melhoramento do mundo."
Martinho Lutero é um exemplo e fez diferença por não aceitar tão pacificamente. Reagiu, protestou, sofreu pela atitude e ações, mas assim eternizou-se. Conhecemos sua obra. Seu trabalho trouxe mudanças como o início da igreja protestante; a influência da reforma na economia; a criação da escola para todos (disciplinas como leitura, escrita, aritmética e religião se tornaram o currículo básico); re-inserção da mulher na sociedade; formação da língua alemã (Lutero e seus colaboradores não só criaram uma nova língua como também proporcionaram condições para que o povo pudesse ter acesso a este novo código linguístico); a formação da Alemanha; a importância da paternidade e da maternidade...
Em 1524 queixou-se de que "constatamos hoje em todas as partes da Alemanha que as escolas estão no abandono. As universidades são pouco frequentadas e os conventos estão em declínio”. Lutero não considerou supérfluo o ensino e estimulou que se os magistrados gastam tanto dinheiro para adquirir armamento ou para a conservação de estradas, “por que não levantar igual soma para a pobre juventude. Muito antes, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados.” Rompendo uma tradição de responsabilidade da Igreja pelas escolas da época. Lutero chama a atenção das autoridades, mais especificamente dos conselhos municipais da Alemanha, e as incube dos encargos da educação escolar; dessa forma, o sustento econômico para a criação e manutenção das escolas seria de responsabilidade das instituições políticas locais.
Já não se trabalha a oralidade que nos ensina e nos prepara para o questionamente, a reflexão. O ensino oral propicia uma grande variedade de erros criativos, com as possibilidades de serem corrigidos e contraditos. A alma e o intelecto devem ser exercitados a fim de serem despertados para apreensão das verdades eternas reveladas. Sem os signos, não se pode ter acesso ao significado. Sem leitores não há reflexão. Estaria, a escrita, travando, imobilizando o discurso, tornando estático o jogo livre do pensamento? A palavra escrita não escuta o que diz seu leitor. Não toma conhecimento de suas perguntas e objeções. Uma pessoa que fala pode corrigir-se a cada momento; ela é capaz de retificar sua mensagem.
Hoje predomina a passividade, ninguém quer-se incomodar. Abraçar uma causa que outras pessoas não conseguem enxergar é uma atitude nobre. A nobreza da atitude pode muito bem ser confundida com mero momento de teimosia, cega o suficiente para não valer nada. Estamos com medo do que os outros podem pensar ou dizer. Faltariam Luteros? É preciso não parar e acreditar, pois a verdade é sempre expulsa onde está, portanto precisamos procurá-la continuamente.
Professor Romério Gaspar Schrammel
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