
MENTES QUE MUDAM
05/12/2012 16:12Romério Gaspar Schrammel *
Howard Gardner, em sua obra Mentes que Mudam, faz um rápido relato de como mudou seu pensamento referente a um determinado assunto, a partir de uma explanação de um mestre, ou seja, alguém que sabe das coisas. Com certeza temos vivências muito semelhantes. É aquele momento fatiado que nos faz perceber algo. O que Malcolm Gladwell chamaria de Blink a decisão num piscar de olhos. Não seria uma decisão, mas perceber uma alternativa.
Eu acredito que a leitura é uma fonte. Uma fonte que abre os olhos e faz-nos enxergar as coisas diferentes. É estranho ver coisas que muitos não veem. A leitura transforma e só quem se transforma, assim como a borboleta, consegue voar.
Participando de um intercâmbio, na Alemanha, experienciei um momento de mudar a mente. Nada anormal para os padrões brasileiros lecionar cinquenta e quatro horas aula por semana. Em uma conversa com o orientador do intercâmbio, este nos interrogou sobre o número de aulas que estávamos dando. Éramos três professores gaúchos e ninguém tinha menos de cinquenta aulas semanais. Dada a nossa resposta, o senhor Werner Lich olhou-nos, por alguns segundos, e lascou “quando vocês pensam?” Sim, o professor Lich disse que eu era um professor que não pensava - e ele tinha razão. A sua colocação feriu minha alma, profundamente. Voltei ao Brasil e decidi não lecionar mais do que trinta aulas semanais. Não empobreci, mas percebi a diferença nos alunos. Eu tinha tempo para ler e corrigir as atividades. Enfim, eu me alimentava e tinha o que dizer em aula, já não os ocupava. Profissionalmente eu cresci e os alunos foram, consequentemente, os grandes beneficiados. Não é esse também um problema da educação brasileira?
Outro momento Blink foi quando deixei de trabalhar em uma empresa. É muito importante você sentir-se útil. Temos, por motivos diversos, dificuldade de deixar um emprego, mas não há nada pior do que estar em uma empresa como uma caixinha fechada. Você, com suas ideias fermentando, e ninguém “dando a mínima”. As empresas são minuciosas na seleção de funcionários, afinal querem pessoas com iniciativa própria. Depois que você lá está, têm diversos momentos para expor suas ideias - afinal o chefe precisa saber o que você está pensando. Você é outro quando atua em um espaço onde suas ideias são ouvidas, discutidas e aceitas, ou não.
Mentes são difíceis de mudar, escreve Howard Gardner. Os professores têm nisso sua principal tarefa, mudar a mente do aluno. O professor, para atingir sua meta, deve ter tempo para refletir sobre o seu trabalho e sobre o seu aluno. Analisar detalhadamente em que seu aluno progrediu, ou não, e poder verificar a causa para poder preparar atividades diversificadas. O professor precisa tempo para refletir e preparar atividades adequadas e assim atingir suas metas e indicadores. As escolas trabalham com um percentual inferior a sessenta em gasto com folha, o professor está com um percentual de sessenta em sala de aula, para o aluno ter um percentual de quarenta em rendimento. O Brasil tem muitos funcionários de baixa qualidade, esses produzem pouco e a escola não foge dessa realidade. A boa educação muda mentes, mentes transformadas mudam e qualificam resultados.
* Professor
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