ENTÃO É NATAL!

19/12/2012 08:28

                                                                              Romério Gaspar Schrammel

Natal é tempo de boa nova, acreditamos e trabalhamos para que ela nasça em nós, como indivíduos; no coletivo, também pelos indivíduos; na política, no social, mas sempre pelo indivíduo – o cidadão. Se é pelo indivíduo, pela pessoa que as coisas acontecem então basta olhar para a pessoa, para quem tão pouco olhamos.

O capitalismo tornou-nos parasitas e acreditamos poder prosperar sem piedade, explorando organismos e o próprio homem. O homem é lobo do homem escreveu o filósofo inglês Thomas Hobbes. Já percebemos compreensão de que é preciso mudar o modus vivendi, mas a mudança, além da compreensão, precisa da dor. A dor é sinal vermelho, enquanto isso não acontecer, exploramos. Quando Zygmunt Bauman escreveu que a natureza do sofrimento humano é determinada pelo modo de vida dos homens, que as raízes da dor da qual nos lamentamos hoje estão profundamente entranhadas no modo como nos ensinam a viver, clamou mudanças.

Não faltam os que nos mostram outros caminhos. Jesus foi um dentre muitos. Morreu por nós na cruz. Libertou-nos, acreditamos, mas nós então continuamos a fazer o que e como sempre fazíamos. O verdadeiro doutor Patch, Hunter Patch Adams, diz que não é o sorriso que cura, mas a amizade. O jeito de viver pode fazer toda a diferença. Conta Gladwell, em Outliers, que em 1894 um grupo de italianos compraram terras rochosas próximas a Bangor, nos Estados Unidos.  Fundaram casas, igreja, escola, cemitério, conventos, um parque e organizaram festas – Roseto ganhou vida e os moradores cultivavam a língua italiana, o dialeto.

Já Bangor era habitada por ingleses e alemães. Chegou a Roseto um médico chamado Stewart Wolf. Um médico contou a Wolf que dificilmente alguém de Roseto com menos de 65 anos procurava o médico. Wolf estranhou e começou a investigar. Os resultados foram surpreendentes. Em Roseto, quase ninguém com menos de 55 anos havia morrido de ataque cardíaco ou mostrava sintomas de problemas do coração. Para homens acima de 65 anos, a taxa de mortalidade por doença cardíaca era cerca da metade da que se registrava nos Estados Unidos de modo geral. Não havia suicídios, alcoolismo nem vício de drogas. À medida que começaram a caminhar pela cidade e a falar com os moradores, descobriram o motivo. Observaram como as pessoas interagiam, parando para conversar em italiano na rua ou cozinhando umas para as outras nos quintais. Tomaram conhecimento dos clãs familiares que se mantinham sob a estrutura social do lugar. Viram como em muitas casas três gerações moravam sob o mesmo teto – e o respeito dedicado aos avós. Elas eram saudáveis por causa do mundo que haviam criado para si mesmas em sua minúscula cidade nas montanhas. É necessário conhecer a cultura da qual fazemos parte, saber quem são nossos amigos, a família e a cidade de origem dos familiares. É preciso aceitar a ideia de que os valores do mundo em que habitamos e as pessoas que nos cercam exercem um grande efeito em quem nós somos. É necessário olhar além do indivíduo.

Permitir ao outro ser diferente no mesmo espaço, eis a boa nova. Dizia o lema da Calçados Azaleia, “Tem gente atrás da máquina”. Ninguém como o falecido diretor Nestor de Paula compreendia a dimensão das palavras do lema, assim como compreendia a pessoa em sua função. Quando partiu, partiu também a Azaleia. Que saibamos todos, neste Natal, olhar além do indivíduo - há uma luz que não se vê, porque brilha dentro de você. Eis a boa nova – a LUZ dentro de você!

 

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