
ENCURVADO SOBRE O EU
27/02/2013 16:44Ao ler um texto, cujo conteúdo reflete sobre “O que ganho com isso?” despertou-me para o diálogo com o autor e você leitor. O autor do texto aborda a questão do proveito. “O que ganho com isso?” pode ter no emissor o grande desejo de ganhar, mas pode também ter, no receptor, uma lacuna, por não ter uma resposta. O questionamento não precisa, necessariamente, levar-nos a pensar em dinheiro.
Sempre que comunicamos, fazemos uso da palavra, fazemo-lo por desejo, por uma intenção. Quando fazemos algo, fazemo-lo com uma finalidade e esta é, em última análise, para o EU. E por que não?
Eu sou professor. Logo, a pergunta “O que eu ganho com isso?” provavelmente não terá dinheiro como fim. Ser professor significa ser uma pessoa altamente generosa, pois precisa passar ao aluno tudo que sabe. Não pode sonegar nenhuma informação. E esta generosidade alimenta-nos e não só isso, no momento em que a gente é generoso a gente oferece às pessoas a oportunidade de manifestar a sua gratidão e isso é absolutamente fantástico, porque a gratidão e a generosidade criam um núcleo mágico em que uma alimenta a outra. Se for generoso desperta na outra pessoa gratidão. A gratidão dos outros torna-nos ainda mais generosos. Pergunto “O que ganho com isso?” Para muitos, nada. Por quê? Porque nunca ajudaram ninguém – nunca receberam a gratidão como recompensa. Muitos fazem tanta coisa sem saber se estão realmente ajudando. Por muitos anos, os profissionais faziam coisas com muita generosidade, pois o que faziam era muito útil. Hoje já não percebemos essa gratidão dos que usufruem. Quem produz um par de calçados, em uma fábrica, não percebe a gratidão de quem o compra. Vai, assim, continuar a ser imparcial e querer o dinheiro pela recompensa do seu trabalho. O vendedor desse mesmo calçado tem outra relação com o comprador. Muitas pessoas não podem estar gratas pelo que fazem, pois não percebem o gesto da ajuda, mesmo se ele existe.
A pessoa que pergunta “O que ganho com isso?” não está encurvada sobre si mesma, mas encurvada sobre um vazio, cujo ser é escravo do produzir. O EU que dá recompensa, dinheiro ou gratidão, só existe porque há um TU. Nós é o coletivo de eu e vós de tu. Só ganhamos na relação Eu e Tu, Tu e Eu. Todos os bens, dinheiro, frutos do nosso trabalho, são externos ao nosso ser e um dia já não terão valor saudável. Já a generosidade e a gratidão, que inspiram, fortalecem nosso interior. O que está no interior do indivíduo é dele, fá-lo ser sujeito do seu EU. Uma comunidade constitui-se de indivíduos que são sujeitos para que possam ser cuidadores da Criação de Deus. Isso é ganho impar: curvar-se sobre o EU para abraçar o TU.
Prof. Romério Gaspar Schrammel
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